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Atividades da Articulação de Atingidos pela Vale marcam dia de luta contra a empresa
Nas primeiras horas da manhã dessa quarta-feira, 17 de abril, os participantes do Encontro da Articulação Nacional e Internacional de Atingidos pela Vale, se uniram a militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em marcha pelas ruas do centro do Rio de Janeiro em direção à sede global da Vale S.A, para protestar contra as descabidas violações cometidas pela empresa.

Com faixas, cartazes e gritos de ordem, os manifestantes denunciaram os atos de irresponsabilidades cometidos pela segunda maior mineradora do mundo. Entre as irregularidades, estão violações de direitos humanos, destruição do meio ambiente, remoções forçadas de comunidades, atentados contra a vida. Entre os casos emblemáticos de atuação mortífera da empresa está o financiamento da chacina em Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996, quando 19 trabalhadores rurais do MST foram massacrados pela força policial, em uma ação desumana orquestrada com apoio de grandes latifundiários da região, do Governo do Estado e do comando geral da Segurança Pública do Pará.

Manifestantes deitaram em frente à sede da Vale e em ato simbólico, relembraram os 19 trabalhadores rurais que foram covardemente chacinados em Eldorado dos Carajás, em 1996.

Representantes de comunidades impactadas da Colômbia, Peru, Moçambique, Canadá, África do Sul e do Brasil se revezaram em falas que denunciavam o modelo baseado na mega exploração de riquezas, com um discurso forjado de desenvolvimento sustentável. “O que eles fazem é trazer sofrimento. Dizem que trazem progresso para a comunidade, mas sofremos há 22 anos com a Vale lá em Piquiá. A empresa espalha a destruição por onde passa”, relata Joelma Alves, moradora de Piquiá de Baixo, no estado do Maranhão, fazendo referência à atuação devastadora da empresa brasileira em diversos locais do mundo.

Os altos impactos socioambientais se baseiam em um modelo que visa unicamente ao lucro, segundo Sandra Quintela, que compõe a Articulação de Atingidos. “A atuação da Vale é um modelo baseado na mega exploração para exportação, que não é exclusividade dessa empresa. Aqui no Rio de Janeiro, temos a TKCSA, outro empreendimento que tem como acionista a própria Vale, que tem sua produção de aço voltada para o mercado externo. O que se tem é a usurpação total dos bens comuns locais em detrimento da concentração de riquezas de pequenos grupos. E quem paga a conta desse modelo capitalista é o povo”.

Articulação de Atingidos participa da assembleia de acionistas

Seis representantes da Articulação Nacional e Internacional de Atingidos pela Vale participaram na manhã desta quinta-feira (17) da assembleia de acionistas, que pela primeira vez na história, teve o seu local transferido da sede global no Centro do Rio de Janeiro para o seu escritório comercial na Barra da Tijuca. De acordo com Danilo Chammas, advogado que há anos representas comunidades impactadas, a presença de representantes da Articulação de Atingidos levou incomodo ao conjunto de acionistas e forçou a direção da Vale a responder aos questionamentos apresentados.

“Eram cerca de 50 pessoas no auditório, entre representantes de bancos, de fundos de pensão, membros da diretoria de recursos humanos, do conselho de administração da Vale e nós, que estávamos ali para denunciar e indagar a empresa sobre os problemas causados por suas plantas nas comunidades impactadas, alertando os demais acionistas sobre os riscos para seus investimentos. A assembleia que fatidicamente duraria no máximo 30 minutos se transformou em um debate que durou quase três horas.”

Ainda segundo Chammas, os seis representantes da Articulação se dividiram para abordar e descrever as situações de violações de direitos humanos, ambientais e trabalhistas cometidos pelas empresa em Moçambique, Guiné, no Canadá, na Colômbia, em Belo Monte, Rio de Janeiro, em Minas Gerais, e em Eldorado dos Carajás, no Pará.

“Estávamos bem preparados e conseguimos apresentar questões que são omitidas pela empresa a seus acionistas, questões que colocam em risco seus investimentos. Indagamos sobre os problemas causados em Guiné e do massacre cometido a pessoas contrárias a instalação da empresa no local, que gerou a suspensão por parte do Governo daquele país de seu vínculo com a empresa. Questionamos suas relações com os trabalhadores canadenses, que sofrem com demissões sumárias”, enfatizou.
De acordo com o membro da Articulação, os questionamentos apresentados forçaram respostas por parte da diretora de recursos humanos da empresa, mas que foram bastante evasivas. “Ela nos respondeu dizendo que a companhia reconhece que gera impactos em alguns casos, mas que em outros não. O importante da nossa participação foi a possibilidade real de nos expressar e causar incômodo”.
Ex-vice Ministro do Meio Ambiente do Peru fala do avanço da mineração no mundo

Jose de Echave participou do debate promovido pela Articulação de Atingidos pela Vale na tarde desta quinta-feira no Salão Nobre do IFCS. O ex-vice Ministro abordou o avanço do modelo exploratório adotado pelo sistema em países da América Latina e daqueles ditos em desenvolvimento. “A expansão da mineração pelo mundo representa também uma expansão dos conflitos sociais. Antes, se esses conflitos se limitavam nas relações entre empresas e trabalhadores, atualmente, eles se ampliaram e passaram para conflitos ambientais que interferem diretamente na vida de comunidades inteiras”, explicou referindo-se aos casos de realocação de comunidades inteiras para a consolidação de megaprojetos.

Fabian Nanhica (centro) fala dos problemas gerados pela planta da Vale S.A em Moçambique.

Fabian Nanhica, ex-sindicalista que há anos trava a luta de resistência dos trabalhadores contra a Vale S.A em Moçambique, reforçou o modelo de exploração da mão de obra local por parte da empresa. Um trabalhador brasileiro da Vale em meu país ganha mais de seis mil dólares por mês, além de regalias financiadas pela empresa, enquanto um moçambicano chega a receber sete vezes menos. Eles [Vale] não estão preocupados com a vida das pessoas. Eles estão preocupados em usar as pessoas para o lucro. O trabalho é igual, mas o salário é diferente. Não estamos contra o desenvolvimento, mas queremos um desenvolvimento sustentável”, relatou Nanhica.